segunda-feira, 3 de maio de 2010

#1

23:27 de uma segunda-feira qualquer e lá está ele, voltando pra casa depois de um dia cheio no trabalho... Segue caminhando lentamente, pois lhe falta força até pra levantar os pés, que se arrastam pelo caminho... Os dedos, com as pontas frias, tocando as teclas do Ipod, que agora toca a playlist mais depressiva possível... Ele está triste, se sentindo vazio e quem olha, só vê um cara cansado e sem pressa pra chegar em casa, já que não fará diferença nenhuma estar em casa... Aliás; em casa só faz menos frio, mas não vai ter ninguém esperando por ele, ou ainda que não esperando, alguém acordado pra ouvir ele contar como foi o seu dia...

A rua só não é mais silenciosa, porque os seus fones tocam no volume máximo... Ele pula a música e começa a ouvir aquela introdução que ele conhece muito bem... Fecha os olhos, sorri e começa a cantarolar...

"Pra que sonhar
A vida é tão desconhecida e mágica
Que dorme às vezes do teu lado
Calada
Calada"


Eles está animado agora; não presta atenção em nada a sua volta e segue cantarolando... De olhos fechados e com a música alta, não consegue perceber os passos afobados em sua direção...

"Fica parado ae, irmãozinho!
Para ou eu atiro!"

Por mais alguns passos, ele seguiu, sozinho em seu mundo, que agora ganhava cores... O sorriso continuava em seu rosto; os olhos ainda fechados; a música alta lhe preenchendo a alma...

"Parado ae, caralho!
Tá surdo ou quer perder a vida?"

Sem reação alguma e com os mesmos passos lentos, ele sente uma lágrima rolando... Lágrima de alegria, por não se sentir mais tão vazio... Respira fundo e abre os olhos assustado com um barulho ensurdecedor... Tira o fone de um ouvido, olha pros lados procurando e só consegue enxergar uma rapaz correndo como um louco, ali, no meio da noite...

Ele coloca o fone outra vez, volta a caminhar e cerra os olhos; dessa vez, não pelo prazer de ouvir aquela introdução que tanto gosta, mas por dor... Dor que não impede ele de entender o que aconteceu... Já sem conseguir caminhar, as pernas se entregam ao cansaço do dia e os joelhos dobram... Com o desespero tomando conta da alma que antes era preenchida de satisfação com a música que lhe deixou feliz, ele tenta gritar, mas sua voz não sai... Já no chão, com lágrimas nos olhos, ele consegue ouvir claramente o fim da música que ainda tocava...

"Ah, pra que chorar
A vida é bela e cruel, despida
Tão desprevenida e exata
Que um dia acaba
Acaba!"


E sem poder ouvir a introdução da próxima música, fechou os olhos pela última vez, sem já nem se lembrar de quem era.


P.S.: Texto trabalhado em cima de um pensamento que tive no dia que descobri sofrer de sintomas do transtorno de ansiedade... Ser baleado por não escutar a abordagem de um assalto devido ao volume alto dos fones de ouvido.

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